Pré-candidato ao governo de Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda afirma que o estado perdeu muita competitividade na atração de empresas nos últimos anos e, como um dos fatores que causaram isso, aponta o aumento da cobrança de ICMS, que levou a desvantagem na guerra fiscal.
Lacerda, ex-prefeito de BH, não descarta ser vice de Ciro Gomes
Em entrevista ao Estado de Minas, o empresário defendeu a redução de imposto como forma de melhorar a economia e gerar mais empregos. Também disse que pretende recorrer a financiamentos com o governo federal e estudar uma forma de transformar as estatais mineiras em geradoras de investimentos.
Lacerda reconheceu a importância do senador Aécio Neves (PSDB) e do governador Fernando Pimentel (PT) em suas campanhas anteriores, mas disse que quer se firmar como uma terceira via aos dois partidos. O ex-prefeito, porém, afirmou que a possibilidade de largar a campanha no estado para ser candidato a vice-presidente com o presidenciável Ciro Gomes (PDT) é real e será definida nos próximos 30 dias.
O sr. vai ser candidato a vice na chapa do pré-candidato a presidente Ciro Gomes (PDT)?
A resposta não pode ser minha nem aqui nem depois, tem que ser uma decisão coletiva de partidos e grupos de apoio. Há uma intenção forte dos dois partidos, PDT e PSB, de se juntarem para a eleição presidencial e, da parte do PSB, houve a indicação do meu nome como proposta de estar na chapa como candidato a vice. É concreto, é verdadeiro, mas os partidos não bateram o martelo ainda. Em termos de aliança tem muitos arranjos regionais para serem negociados. Penso que mais ou menos em 20 ou 30 dias isso vai se definir.
O sr. andou por vários municípios, conseguiu apoios. Como explicar aos eleitores se lá na frente desistir do governo para ser vice?
“Houve a indicação do meu nome como candidato a vice. É concreto, é verdadeiro, mas os partidos não bateram o martelo ainda. Em termos de aliança têm muitos arranjos regionais para serem negociados. Penso que mais ou menos em 20 ou 30 dias isso vai se definir”
Não posso consultar as milhares de pessoas que me seguem e se mobilizam em redes sociais querendo me apoiar como candidato ao governo, mas digamos que quem represente o pensamento dessa probabilidade de terceira via vitoriosa eu preciso consultar. Não posso simplesmente dizer não sou mais pré-candidato a governador, estou em outro caminho. Não pode ser uma decisão solitária, preciso ouvir o grupo. A prioridade firme hoje viável e sem vacilação é a candidatura ao governo.
Quais os principais problemas de Minas hoje e como resolver?
Temos um problema estrutural que vem de vários governos, que é o baixo dinamismo da economia mineira e a perda de competitividade em relação à economia nacional. Enquanto outros estados reduziram impostos, aqui aumentamos e, principalmente nos últimos anos, temos um governo não eficiente no relacionamento com investidores. Hoje estamos em 6º lugar em competitividade. Há uma deterioração nas finanças públicas e na capacidade gerencial do estado. É uma situação dramática. Minas Gerais não é mais exemplo para o Brasil e o mundo como já foi no passado. Quando você vê um estado como Mato Grosso do Sul mais atrativo para investimento que Minas há algo profundamente errado. Penso que o governador eleito deveria em outubro, logo depois da eleição, chamar os deputados federais e senadores e fazer um pacto de uma negociação conjunta com o governo federal.
Como avalia o governo Pimentel?
O governo Pimentel assumiu com um déficit de caixa e até denunciou isso, mas não fez o ajuste que precisava. Ele aumentou despesas, ampliou o número de secretarias, aparelhou politicamente a estrutura do estado e não o organizou de uma forma eficiente. O estado hoje não é uma máquina eficiente, troca-se as pessoas com muita facilidade, ele pulverizou e loteou a estrutura que havia de atração dos investimentos. Hoje o empresariado não vê o estado como uma máquina organizada no sentido de atrair, reter investimentos.
Se eleito, assumirá um estado com déficit, escalonando salários e retendo recursos de prefeituras. Há uma solução a curto prazo?
É uma situação muito grave que não tem como ser solucionada no custo prazo. A soma dos gastos com pessoal e o custeio da máquina é maior do que a receita. É preciso remodelar o estado, enxugar ao máximo possível número de secretarias e cargos de confiança, tornar os recursos existentes mais eficientes, dar muito mais transparência, mostrando a realidade desses números. Não se pode pensar em melhorar a receita simplesmente aumentando impostos, já se fez isso. Houve um aumento excessivo de alíquotas de ICMS em Minas, isso não pode continuar. É preciso até pensar em uma redução gradativa de impostos para gerar mais economia, mais dinâmica e mais empregos. E é preciso que a estrutura remanescente seja mais eficiente com o pouco dinheiro que tem, prestando serviço de mais qualidade. É preciso uma negociação com o governo federal para tomar novos financiamentos, que deverão ser dirigidos prioritariamente a investimentos e não para custeio e, nesta mesma negociação, conseguir postergação longa do prazo de pagamento de dívidas para dar algum alívio no orçamento.
É possível definir um prazo resolver essas questões?
“Penso que o governo eleito deveria em outubro, logo depois da eleição, chamar os deputados federais e senadores e fazer um pacto de uma negociação conjunta com o governo federal”
É impossível definir um prazo para isso. O ideal é que as estatais, como Codemig, Cemig e Copasa, fossem agentes mais eficientes para gerar novos investimentos. Você pode criar uma holding, uma empresa mãe, e o estado manteria o controle com maioria nela. Poderia ter uma diluição maior da propriedade do estado e transformar, por exemplo, a Codemig em uma empresa de investimento em novas atividades em parceria com o setor privado. Há fórmulas de engenharia societária e financeira, não necessariamente a venda do controle, que poderiam ser negociadas com o governo federal. Essa holding poderia ser garantidora parcerias público-privadas, tal como fizemos na PBH.
Em 2016 o sr. acabou isolado e a candidatura que apoiou não chegou nem ao segundo turno. O que está fazendo para isso não se repetir nessa campanha?
São situações completamente diferentes. Eu não era o candidato. Mesmo com a derrota do nosso candidato (Délio Malheiros) terminei a gestão bem avaliada e continuo até hoje. Tínhamos 11 candidatos, o nosso candidato inicialmente previsto não pôde ser confirmado porque surgiu um problema que tornaria a candidatura dele frágil, mas foi um ano em que a população queria mudança em todo o Brasil. Em todo o Sudeste e Centro-Oeste, exceto no Espírito Santo, nenhum prefeito se reelegeu ou conseguiu fazer o sucessor. Então, 2016 não é um bom exemplo para se comparar.
E esse quadro mudou? A população não continua querendo mudança?
Este ano é um pouco diferente. Na disputa para o Executivo, a população quer uma pessoa de ficha limpa com boa experiência de administração e me encaixo nessa descrição. Tanto que as pesquisas mostram. Quem me conhece bem, 40% pretende votar em mim e a rejeição é baixa. Aqui na região metropolitana, a média é acima de 30% porque sou mais conhecido. Tem regiões onde sou pouco conhecido que a intenção é 7% ou 5%. Então é a questão do conhecimento.
O PDT e Pros fecharam apoio. O sr. tem conversado também com MDB, PCdoB, SD e outros. Quais partidos espera que estejam em sua aliança?
É um pouco difícil prever isso. Não é necessário ter um número grande de partidos. É necessário ter um tempo mínimo de televisão e uma estrutura mínima capilarizada em todo o estado em termos de pessoas experientes no processo eleitoral para nos ajudar na divulgação do nome e na busca do voto.
O ex-governador Anatasia disse em entrevista ao EM que o sr. se afastou do PSDB em 2016, mas nada impede um retorno. É isso mesmo?
Tenho excelentes relacionamentos com a imensa maioria do PSDB. Antes de Anastasia se colocar como candidato, a quase totalidade dos prefeitos, inclusive das grandes cidades, tinha publicamente manifestado apoio. Alguns permanecem nos apoiando. Eles participaram das nossas duas eleições. Na eleição de 2010 trabalhei pelo Anastasia, em 2014 apoiei Pimenta da Veiga, apesar de ter me manifestado contra a viabilidade dele. Não participei da eleição presidencial porque fiz pessoalmente um acordo com Dilma, Aécio e Eduardo Campos de que não pediria voto para nenhum dos três. Em 2016 tínhamos a intenção de ter um candidato com um perfil que acreditávamos que seria interessante para continuidade do nosso trabalho e não foi possível o acordo com o PSDB, mas no segundo turno o partido ficou neutro. Havia uma posição de apoiar João Leite, mas ele próprio se manifestou publicamente de que não queria, então o partido liberou seus militantes e a maioria apoiou Kalil. Então não houve esse afastamento, houve uma negociação para apoiar no segundo turno, mas o candidato não queria.
O sr. quer se firmar como terceira via mas teve apoio do Aécio e Pimentel. Como explicar isso ao eleitor?
Tive apoio dos dois como um técnico que não tinha carreira política, era considerado um bom gestor. Toda minha gestão foi voltada para resultado. Não fui candidato a governador em 2014 por várias razões e uma delas foi porque não queria ir contra a movimentação desses dois, que foram importantes na minha eleição. Neste momento os dois partidos estão muito desgastados. O PSDB representa a volta ao passado, que teve um período bom, mas deixou também problemas. E o PT lidera um governo que está muito mal avaliado. Então, quero me apresentar como terceira via. Digo que sou um novo com experiência de gestão e que apresentou resultados. O relacionamento pessoal continua, não somos inimigos e respeito a carreira dos dois. O PT rompeu comigo na eleição de 2012 e o PSDB rompeu comigo na eleição de 2016. O PSDB rejeitou hipótese de me apoiar para governador agora, tive reuniões no fim de 2017 e o que foi dito para mim foi ‘você não gosta de políticos e os políticos não gostam de você.’
O sr. chegou a dizer que tinha um pacto com Dinis Pinheiro para estarem juntos. Esse pacto acabou com a entrada de Anastasia na campanha?
Da minha parte não. Nosso pacto era que quem estivesse melhor nas pesquisas encabeçaria a chapa. Ele reconheceu há três meses que eu tinha mais viabilidade e pretendia se candidatar ao Senado. Ele publicamente não se afastou ainda e temos feito reuniões, não houve um afastamento. Ainda espero que possamos estar juntos.
O senhor acha que seu principal adversário está no campo Pimentel/Anastasia ou em uma alternativa, como o Rodrigo Pacheco?
Todos os analistas com experiência política que rodam todo o estado dizem que sou um candidato muito forte para estar no segundo turno. Contra quem eu não posso prever.
Para vice e Senado já tem algum nome indicado?
Isso, vamos construir com os partidos que estejam conosco.